
Os estrogênios são hormônios esteroides que desempenham funções essenciais no corpo feminino. Regulam o ciclo menstrual, mas sua influência vai muito além da fertilidade: participam do funcionamento saudável dos ossos, do coração, do cérebro, do metabolismo e dos tecidos musculares.
Durante a perimenopausa e a menopausa, a diminuição gradual dos níveis de estrogênio pode causar mudanças visíveis e invisíveis que afetam a qualidade de vida. Entender como o estrogênio atua ajuda a interpretar o que acontece com o corpo nessa fase de transição.
Em mulheres em idade fértil, o estrogênio é produzido principalmente pelos ovários. Após a menopausa, a produção ovariana diminui drasticamente e o estrogênio passa a derivar principalmente da conversão periférica de andrógenos no tecido adiposo, com menor contribuição das glândulas suprarrenais.
Entre as diferentes formas de estrogênio (estradiol, estrona e estriol), o estradiol (E2) é o mais biologicamente ativo durante os anos férteis.
O estrogênio atua ligando-se a receptores específicos — ERα e ERβ — distribuídos por vários tecidos, incluindo ossos, músculos, coração, vasos sanguíneos e cérebro. Por meio dessa interação, ele regula genes envolvidos em funções celulares fundamentais. Assim, contribui para manter os ossos fortes, preservar a massa muscular, proteger o sistema cardiovascular e sustentar as funções cognitivas e o equilíbrio do humor.
Quando os níveis de estrogênio diminuem, como ocorre na menopausa, essa rede de comunicação enfraquece. O corpo então manifesta sintomas como ondas de calor, sono irregular, ganho de peso, fadiga ou dificuldade de concentração. Esses sinais não são apenas incômodos temporários, mas respostas fisiológicas a uma mudança hormonal profunda.
O estrogênio ajuda a manter a densidade óssea, regulando o remodelamento dos ossos. Ele inibe a osteoclastogênese — diminuindo o RANKL e aumentando o OPG — e estimula a formação óssea pela via Wnt/β-catenina. Sua deficiência acelera a perda mineral e aumenta o risco de fraturas.
A queda do estrogênio também pode contribuir para a perda de massa muscular (sarcopenia) e para a redistribuição da gordura corporal, com aumento da gordura visceral. Embora a relação entre estrogênio, músculo e metabolismo ainda não esteja totalmente definida, sabe-se que há impacto direto na composição corporal.
O estrogênio tem efeitos sobre os vasos sanguíneos e o metabolismo lipídico. Ele promove a vasodilatação (por exemplo, aumentando a disponibilidade de óxido nítrico), reduz a rigidez arterial e pode melhorar o perfil lipídico.
Entretanto, o efeito “protetor” contra doenças cardiovasculares não é uniforme. Uma revisão publicada na Maturitas (2024) mostrou que o risco cardiovascular aumenta nos primeiros anos após a menopausa, mas esse fenômeno resulta da interação de fatores hormonais, metabólicos e do envelhecimento.
No cérebro, o estrogênio atua de forma complexa. Ele favorece a plasticidade sináptica, regula o crescimento e a sobrevivência neuronal e modula neurotransmissores como serotonina, dopamina e acetilcolina.
Esses mecanismos sustentam a memória, a atenção e o processamento mental, além de influenciar o humor.
Com a queda dos níveis de estrogênio durante a transição menopausal, muitas mulheres relatam dificuldade de concentração, lentidão mental (a chamada “névoa mental”), alterações de humor, irritabilidade e maior vulnerabilidade à ansiedade e à depressão.
Estudos recentes — como os publicados em Frontiers in Neuroscience (2024) — confirmam o papel do estradiol na manutenção da plasticidade cerebral e da função cognitiva.
No entanto, ensaios clínicos controlados ainda não comprovaram um benefício claro da terapia hormonal na prevenção do declínio cognitivo. Por isso, a terapia hormonal não é atualmente indicada para esse fim, exceto em casos específicos.
O estrogênio influencia a regulação do peso e a distribuição de gordura corporal. Ele modula o uso da glicose e a sensibilidade à insulina, fatores essenciais para a saúde metabólica.
A redução dos níveis hormonais está associada ao aumento da gordura visceral e a possíveis alterações do metabolismo energético.
Um estudo publicado na Nature Metabolism (2023) sugeriu uma associação entre a deficiência estrogênica e a redução da atividade mitocondrial em modelos experimentais. As implicações clínicas para fadiga e desempenho físico em humanos ainda precisam ser confirmadas.
Nos tecidos geniturinários, o estrogênio mantém a integridade da mucosa vaginal, uretral e vesical, promovendo elasticidade, irrigação sanguínea e hidratação.
Quando os níveis hormonais diminuem, esses tecidos se tornam mais finos e menos lubrificados, o que causa secura, irritação e dor durante as relações sexuais.
Essa condição é conhecida como Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM). Os sintomas podem incluir secura vaginal, dispareunia, sintomas urinários irritativos e maior propensão a infecções urinárias.
Segundo as recomendações da EMAS, a terapia local com estrogênio deve ser considerada o tratamento de primeira escolha, desde que não haja contraindicações, dentro de uma avaliação clínica individualizada.
A deficiência de estrogênio afeta todo o organismo. Entre as consequências mais comuns estão a perda de massa óssea e muscular, o desaceleramento do metabolismo com aumento do peso e redistribuição da gordura corporal, e o piora do perfil lipídico.
Distúrbios do sono e do humor, alterações na memória e na concentração e desconforto geniturinário também estão relacionados a essa queda hormonal.
Esses efeitos variam de pessoa para pessoa, mas representam uma adaptação natural do corpo à nova fase hormonal.
A terapia hormonal (TH) pode aliviar os sintomas da menopausa e prevenir complicações associadas à deficiência de estrogênio, como a osteoporose e os sintomas vasomotores.
De acordo com a North American Menopause Society (NAMS, 2024), os melhores resultados ocorrem quando a terapia é iniciada dentro de aproximadamente 10 anos após a menopausa ou antes dos 60 anos. O tratamento deve ser sempre personalizado conforme idade, tempo de menopausa e perfil de risco cardiovascular e oncológico.
A escolha da dose e da via de administração (oral, transdérmica ou vaginal) deve ser feita junto a um(a) médico(a) especializado(a).
Quando a terapia hormonal não é indicada ou não é desejada, alternativas com base científica incluem:
Uma abordagem integrada, que combine estilo de vida saudável e suporte médico quando necessário, pode melhorar o bem-estar e reduzir os sintomas.
Procure uma ginecologista ou endocrinologista se os sintomas da menopausa interferirem significativamente na sua qualidade de vida. O plano de cuidado deve incluir avaliação hormonal, exames laboratoriais e estratégias terapêuticas personalizadas.
O acompanhamento médico não deve se limitar ao tratamento de sintomas. A menopausa é uma oportunidade para uma medicina preventiva focada.
A redução dos estrogênios aumenta progressivamente o risco de osteoporose e fraturas, doenças cardiovasculares, declínio cognitivo e perda muscular.
Um acompanhamento precoce permite não apenas melhorar o bem-estar atual, mas também planejar intervenções eficazes para proteger ossos, coração, memória e humor — retardando os processos fisiológicos do envelhecimento.
Para saber mais ou receber uma orientação personalizada, é possível agendar uma consulta com a Dra. Silvia Accornero diretamente na Pausetiv, apòs se registrar na plataforma.
